Existe uma abordagem da análise de acidentes que tem como base o controle do que é controlável. O principal autor desta linha é o holandês Jop Groeneweg autor do Livro “Controlling the controllable. The management of safety”. Nesta mesma linha existe uma abordagem chamada “Tripod” que identifica um conjunto de “Fatores Básicos de Risco”. Segundo o Tripod a probabilidade da ocorrência de acidentes pode ser fortemente reduzida caso os BRFs (Basic Risk Factors = Fatores Básicos de Risco) sejam reduzidos. Em outras palavras, para termos segurança devemos controlar o que é controlável, fazer o é possível ser feito tratando dos BRFs, que ao todo são onze.
Neste fim de semana observei um caso público onde os conceitos do Tripod foram ignorados, criando situações de risco, que poderiam estar sob controle, e que serve para ilustrarmos esta abordagem da Gestão de Risco.
O Shopping Center da Gávea, no dia 09 de fevereiro estava aberto para o público com uma parte significativa (mais de 50%) de sua circulação interna obstruída. As escadas rolantes entre o andar térreo e o primeiro piso e entre este e o segundo piso estavam inoperantes e bloqueadas. Dentre os três elevadores, um estava inoperante e as saídas estavam sinalizadas por cartazes, do tamanho de um papel A4, afixados nas paredes, sem iluminação de emergência.
Nestas condições a circulação entre um andar e outro era limitada e deficiente o que é inaceitável para um Shopping Center com quatro salas de cinema, outras tantas de teatro e mais uma dezena de bares e restaurantes.
A operação de um centro comercial tem que feita com conforto e acima de tudo com um nível de risco que permita que o mesmo seja evacuado com rapidez e segurança numa eventual emergência. Quando a manutenção do Shopping aberto para negócios é mais importante do que a segurança dos seus usuários temos configurado neste conflito o fator básico de risco (BRF) denominado “Metas Incompatíveis”. E, relembrando o Tripod, a segurança é atingida quando eliminamos ou reduzimos os BRFs. Considerando apenas este BRF, a segurança para os usuários seriam aumentada caso a meta incompatível com a segurança fosse eliminada. Ou seja, a abertura do Shopping não poderia ser uma meta que sobrepusesse à meta de segurança.
Controlar o controlável é possível caso os fatores básicos de risco sejam eliminados, caso contrário, a gestão dos riscos será sempre um trabalho pontual de eficácia limitada.
Uma falha clássica na gestão da segurança é o tratamento dos sintomas do risco ao invés da eliminação da sua causa e, quando trabalhamos nas causas corremos o risco de abrir nosso “botequim” sem que o mesmo esteja nas condições mais adequadas (veja o artigo sobre ALARP neste Blog).
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