quinta-feira, 19 de março de 2009

A Crise Financeira – Lições para a Continuidade


No momento em que o mundo está passando por uma grande crise decorrente do desastre do sistema financeiro tem sido comum a repetição de uma crença que está longe de ser verdade.
Muito se ouve que quando a crise acabar isto vai acontecer, ou aquilo vai melhorar, e que tudo voltará a ser como antes.
Ledo engano. E engano semelhante incorrem alguns profissionais de continuidade de negócios que pregam a “volta à normalidade” depois de um desastre, como se a volta à normalidade fosse o retorno à situação existente antes da crise.
A volta à normalidade, ou o pós-crise, deve ser entendido como a chegada a uma condição de equilíbrio, a partir da qual melhorias podem ser feitas. O que os economistas tem que procurar atingir neste momento é um mínimo de equilíbrio, que possa ser considerado como novo ponto de partida do sistema financeiro. Enquanto houver empresas, mercados, países com grandes desequilíbrios a economia mundial fica vulnerável.
A crise pela qual passamos pode até ter tido uma data de início, caracterizada pela quebra de um banco. Mas, na verdade, esta quebra foi apenas um evento emblemático representante de um conjunto de equívocos cuja ocorrência se deu por um extenso período de tempo. Da mesma forma não pode ser esperado que haja um dia para a crise terminar. Os desequilíbrios serão sanados paulatinamente ao longo do processo de recuperação até atingirmos uma situação de conforto, em que os desequilíbrios residuais serão tolerados e encarados como inevitáveis. O fim da crise tem início em algum momento do passado e terá seu fim em algum momento do futuro. Dia e hora são simplificações que não ajudam a entender o problema.
Neste novo equilíbrio, postos de trabalho perdidos não serão recuperados, mas novos postos de trabalho serão criados. Empresas terão desaparecido, mas novas empresas aparecerão para atender novas e diferentes demandas. A nova normalidade será diferente do passado recente e menos exuberante num primeiro momento. Não cabe dizer que este novo momento será pior ou melhor, ele é a vida que segue sem fim.
Felizmente, a volta ao passado é impossível de ocorrer e isto por si só já é um alívio. Com esta crise nós nunca mais iremos nos defrontar.
Vamos trabalhar para o retorno ao equilíbrio e que venham novos desafios.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Gestão de Risco – Uma Novela



Em julho de 2008 a PS Eng. de Produção foi convocada para gerir o risco operacional da gravação de uma telenovela de 150 capítulos. Para esta gestão foi utilizado o método Bow Tie, e como suporte foi utilizado o software BowTieXP.
O cerne da gestão de risco era evitar que a data de conclusão fosse postergada. Para isto, as ameaças e as conseqüências de uma paralisação, ainda que temporária, das gravações foram identificadas através de entrevistas com os principais responsáveis pela produção em todos os seus segmentos. Em especial, para as conseqüências, foram entrevistados também os executivos responsáveis pela produção, uma vez que dentre as conseqüências era previsível que houvessem impactos financeiros, contratuais, políticos (era uma produção internacional) e comerciais.
Uma vez indentificadas as ameaças e as conseqüências da paralisação das gravações foi elaborado um diagrama Bow Tie. Com este diagrama sendo utilizado como referência foi realizado um novo conjunto de entrevistas visando a identificação de controles previstos e de controles desejáveis.
Com base nos controles identificados foram realizadas reuniões com os gerentes e diretores para avaliação do custo benefício de cada controle, tendo também como referência o conceito de ALARP. Destas reuniões resultou o conjunto de controles a serem adotados para fins de redução do risco de uma paralisação.
O passo seguinte foi a identificação dos responsáveis por cada controle. Estes responsáveis foram incumbidos da efetiva implantação e disponibilidade dos controles.
Todas estas informações foram registradas no software Bow Tie XP e relatórios foram impressos e distribuídos pata todos os envolvidos.
A partir desta fase coube à PS acompanhar a implantação dos controles, avaliar a disponibilidade dos controles implantados, acompanhar a solução de desvios operacionais relativos aos controles e identificar novas ameaças e novos controles passíveis de uso.
Após cinco meses, no mês de dezembro de 2008, as gravações foram concluídas no prazo planejado sem a ocorrência de incidentes que implicassem em risco para o sucesso do empreendimento.

Gestão de Risco no Asfalto


Moro no Rio de Janeiro, ao lado da Rua Jardim Botânico, que nos dias úteis tem a mão de uma das suas pistas invertidas das 17:00h às 21:00h.
Trabalho com Gestão de Riscos há mais de dez anos.
A combinação das duas assertivas acima tem um resultado: Evito circular na Rua Jardim Botânico durante a inversão da mão, e em especial, próximo dos horários onde se dá a inversão e a volta à normalidade. O motivo é que na minha avaliação profissional o risco de ocorrência de acidentes de trânsito durante a inversão é extremamente alto.
No dia 02 de março um motociclista morreu num acidente de trânsito na pista “invertida” do Elevado do Joá. Neste mesmo dia um pedestre foi atropelado na pista invertida da Rua Humaitá, Rio de Janeiro. Neste caso o pedestre teve apenas leves escoriações. O mesmo tipo de risco encontrado na Rua Jardim Botânico estava presente em ambos os casos.
Uma das formas de reduzir um risco é a alteração do processo que acarreta o mesmo. No caso da inversão de sentido de uma pista, podemos considerar que este procedimento é uma solução fruto de um estudo da área de engenharia de trânsito e portanto a inversão da mão da pista é um precedimento que deve ser mantido, não cabendo evitá-lo.
Desta forma a gestão de risco de ocorrência de acidentes deve ser feita a partir da identificação de todas as formas de se reduzir ou eliminar as possíveis fontes deste evento indesejavel, assim como devem ser identificadas quais as reações necessárias caso haja um acidente para mitigar as consequências do mesmo.
Para este tipo de gestão de riscos o método Bow Tie é uma excelente ferramenta. O Bow Tie permite uma rápida visualização das ameaças e das conseqüências de um acidente assim como dos controles para reduzir o risco existente. Com o método Bow Tie a aplicação do conceito do ALARP – “As Low As Reasonable Possible” também é viabilizada.
Soluções improvisadas, com sinalização deficiente, confiando no conhecimento prévio dos motoristas e na previdência dos pedestres são inaceitáveis.
O Bow Tie é apenas uma forma de se tratar o risco, outras formas existem e podem ser utilizadas pelos nossos gestores de trânsito para o efetivo tratamento do risco de acidentes.
Não podemos é ficar dependentes da sorte e do bom senso de cada motorista e pedestre.
PS: A quantidade de acidentes em logradouros com “pista invertidas” é relativamente baixa considerando as medidas preventivas adotadas. Infelizmente os números ainda que baixos registram casos como o citado acima, do motociclista que faleceu.



segunda-feira, 2 de março de 2009

Incêndio no Costa Romântica

No artigo anterior utilizamos o caso do incêndio no navio Costa Romântica para ilustrar a gestão de crise. Hoje, dia 02 de março, passados alguns dias do desembarque dos passageiros podemos tomar conhecimento do que ocorreu no navio nas 24 horas que sucederam o incidente.
Pelos relatos podemos considerar que a resposta ao incidente foi eficaz. Nenhum passageiro ou tripulante ficou ferido e o incêndio foi controlado rapidamente.
As ações posteriores à resposta emergencial dão a entender que houve grave falha na comunicação com os passageiros uma vez que pouco foi informado e assim como também foram falhos os procedimentos de contingência uma vez que eles foram ineficientes na mitigação do desconforto.
A falta de energia elétrica num navio de cruzeiro, que hospeda mais de mil pessoas, acarreta uma série de desdobramentos que requerem a existência de uma plano de contingência estruturado e capaz de fornecer as condições mínimas necessárias para a alimentação, acomodação e higiene de centenas de pessoas.
A falta energia elétrica tem uma série de conseqüências, dentre as quais destacamos:
· Falta de ar-condicionado, impedindo a habitação nos camarotes, uma vez que a maior parte dos mesmos não dispõe de janelas que possam ser abertas.
· Falta d’água devido à inoperância de bombas para a distribuição da água.
· Falta de refrigeração dos alimentos, acarretando na deterioração dos mesmos.
· Falta de condições de uso da cozinha do navio, por falta de ventilação na mesma.
Diante de tal quadro de deterioração das condições de uso do navio, uma falta de energia elétrica é um incidente cuja duração não pode superar algumas poucas horas. Caso contrário este incidente se transformará num desastre, a menos que haja um Plano de Continuidade e Contingência.
O incidente do Costa Romântica pode ser considerado um desastre, ainda que, felizmente, não tenha havido nenhum dano físico a passageiros e tripulantes.
(Foto: Reuters)