quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Resposta a um Desastre

O desastre de Mariana é um caso exemplar para discutir a qualidade de nossos planos de recuperação de desastres.
Nos anos 70 e 80, o termo mais utilizado no Brasil era Plano de Contingência. Expressão em que cabia todos os tipos de respostas a incidentes indesejados e era largamente empregado na forças armadas e nas empresas petrolíferas. Nos Estados Unidos no DRII, Disaster Recovery Institute International, com sede em St. Louis nos EUA, que tratava tanto de desastres naturais como desastres corporativos era utilizado o nome de Plano de Recuperação de Desastres, de forma genérica, não sendo adotado o termo contingência para este tipo de plano.
Nos anos 90 o DRII passou a utilizar a denominação de Planos de Continuidade de Negócios por considerar que a palavra continuidade melhor definia os objetivos de um plano de resposta a desastre. Os desastres, de causas naturais, ficaram excluídos  do conceito de Planos de Continuidade de Negócio e para estes o antigo nome se aplicava. No Brasil, a denominação Planos de Continuidade passou a ser utilizada em maior escala quando o Banco Central exigiu este tipo de gestão, com este nome, para fazer frente ao "bug do milênio".
No novo milênio, Disaster Recovery passou a ser também, equivocadamente, utilizado para tratar da recuperação do ambiente de tecnologia de informação das empresas, planos estes que disputavam os orçamentos com os Planos de Continuidade de Negócios.  Este reaproveitamento da palavra desastre na área de tecnologia de informação foi decorrente de uma visão simplista do conceito de continuidade de negócios, uma vez que o ambiente de TI não pode ser tratado desassociado dos negócios, mas ainda assim este termo vingou neste meio.
Hoje temos os Planos de Contingência, Planos de Recuperação de Desastres, Planos de Continuidade de Negócio, Planos de Resposta Emergencial, dentre outros disputante um mesmo espaço. Conceitualmente, a estrutura de todos estes tipos de planos se baseiam na prevenção dos desastres, na resposta emergencial, e num plano de continuidade operacional. O nome e o peso de cada parte pode variar em função do seu ambiente, mas o conceito é o mesmo e caso ele seja bem estruturado, a nomenclatura é o que menos importa.
Todos estes planos ao serem construídos tem como premissa alguns pressupostos. Por exemplo, num plano empresarial pode ser considerado como pressuposto que haverá pessoal qualificado em quantidade suficiente para que os processos alternativos sejam executados. Outra premissa usual é que os dados vitais estarão íntegros e em condição de serem utilizados após o desastre (um banco, por exemplo, não tem como sobreviver caso perca seus dados sobre contas correntes e de investimentos). Os pressupostos precisam ser garantidos, e as empresas tem que fazer por onde para que eles possam ser factíveis e confiáveis.
Ao tratarmos de desastres ambientais alguns pressupostos também tem que ser assumidos. Um deles, por exemplo, pode ser o de que o sistema de alerta irá funcionar. Na estruturação dos procedimentos de resposta deste tipo de incidente devem estar contemplados os procedimentos de resposta emergencial, nas primeiras horas, e os procedimentos de mitigação compatíveis com o caso tratado. Em Mariana, pelas informações divulgadas na mídia, podemos considerar que não havia um plano de resposta compatível com o colapso de uma barragem. Os procedimentos de resposta, de contenção e mitigação dos impactos que pudemos conhecer foram ineficientes.
O desenvolvimento de planos de resposta a desastre é um trabalho que exige método, e constante aperfeiçoamento. Infelizmente, isto parece que não foi adotado pelos agentes envolvidos na ruptura da represa em Mariana. O resultado foi desastroso e os procedimentos de resposta que foram implementados parecem ser casuísticos, não planejados e não suportados pelos devidos e necessários recursos técnicos e humanos. Acrescente-se que o a exposição da população a este tipo de desastre também implica numa responsabilidade das autoridades. A Samarco foi incapaz de responder a este colapso, e o governo do Estado de Minas também foi incapaz de proteger a população exposta. A existência de vilarejos exatamente no caminho das águas ou rejeitos de uma represa por si só é inaceitável e demonstra a fragilidade dos procedimentos preventivos.
Pela nossa experiência de desenvolvimentos de trabalhos de gestão de risco e de gestão de resposta a desastres a Samarco não errou apenas na má gestão do incidente. Os erros começaram muito antes.
Temos muito trabalho a fazer para que desastres deste tipo tenham sua possibilidade de ocorrência e consequências diminuídas ao mínimo.

O leite está derramado, só nos resta aprender com os erros.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Mariana, Paris, Risco e Bow Tie

Atentados em Paris, rompimento de barreira em Mariana, estado de alerta em Bruxelas, atentado contra um hotel em Mali, são algumas das notícias que temos recebido nos últimos dias. Em comum em todos estes casos temos a descontinuidade das atividades diárias, dos processos de trabalhos das empresas e da vida das cidades.

No ambiente público e no ambiente privado esta descontinuidade causa impactos indesejáveis e em alguns casos irreparáveis. Evitar estes eventos e, no caso de sua concretização reduzir seus impactos, é o objetivo da gestão de risco.
Não há como reduzir a zero a probabilidade de uma ocorrência como as citadas, mas há como se trabalhar para reduzir a possibilidade de sua ocorrência. E há como se trabalhar para reduzir o impacto de suas consequências.
Gestão de risco é um trabalho que exige método, conhecimento técnico do ambiente do risco a ser tratado e pesquisa para um melhor conhecimento das ameaças e dos controles disponíveis para prevenção e mitigação.  Esta variedade de conhecimentos faz com que o trabalho de gestão de risco de casos graves, onde a combinação de probabilidade e consequência implique num risco significativo, seja trabalho de uma equipe. A mescla de conhecimentos faz com que o resultado seja mais eficiente e o risco seja efetivamente reduzido.

Um dos métodos que identificamos como sendo interessante para a realizar da análise do risco é o Bow Tie. Neste método, um dos pontos forte é a comunicação do risco através de um diagrama de excelente visualização, neste diagrama ficam evidenciados os mecanismos de prevenção e os mecanismos de reação à concretização do risco. O método adotado para a análise de risco é um ponto vital para o seu sucesso. A metodologia a ser utilizada deve ser um guia prático, sem ser simplista, para a condução dos trabalhos técnicos e que não permita que seus executores se percam num emaranhado infindável de possibilidades e alternativas. O resultado final deve ser um produto que transmita de forma prática e consistente o que deve ser feito para o tratamento do risco. O método Bow Tie, estruturado pela Shell nos anos 90, vem aos poucos sendo conhecido e ganhando adeptos no Brasil. Seja você um deles!


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O que Mariana nos Ensina

Somos todos sobreviventes. Se você está lendo este artigo é porque você administrou satisfatoriamente os riscos que você foi confrontado e conseguiu superá-los.
Com o aprendizado adquirido nas vitórias e pequenas derrotas sua capacidade de sobrevivência ficou ampliada. Nem todos os riscos que você enfrentou foram vencidos com sucesso, mas os riscos maiores, que ameaçaram sua sobrevivência foram superados. Você é a prova viva!
Entre as lições que vamos acumulando ao longo da vida, uma é que devemos fazer a avaliação do que pode impedir a concretização de nossos objetivos. Também aprendemos a identificar formas alternativas de superar os obstáculos e minimizar impactos negativos quando não obtemos o desejado sucesso.
Não atravessamos a rua sem olhar para os lados, não nadamos em rios com correnteza, não cutucamos a onça com vara curta....  
Quando nos tornamos adultos e maduros começamos a nos preocupar com planos de saúde, aposentadoria e seguros de vida.
Ao utilizarmos este conjuntos de procedimentos estamos fazendo a gestão do risco que pode impedir a nossa sobrevivência. Este conjunto de procedimentos adotados,  resumidamente, são a síntese de uma gestão de risco.
Quando utilizamos um reservatório, contido por uma barragem, que acondiciona milhões de litros de lama e substâncias poluentes devemos avaliar o que poderá colocar em risco esta contenção e devemos também avaliar as possíveis consequência do rompimento desta barragem. Adotar as medidas preventivas e corretivas é consequência destas avaliações e a este processo damos o nome de gestão de risco. O diagrama bow-tie abaixo apresentado é uma ferramenta extremamente útil para registrar este trabalho e divulgá-lo. A comunicação da gestão de risco é fundamental para todos os envolvidos, direta ou indiretamente. Todos tem que ter conhecimento da capacidade de resposta, inclusive com seus pontos fracos, e das possíveis consequências da sua ocorrência.



Quando um desastre como o do rompimento das barreiras da Samarco no município de Mariana acontece, é evidente que a gestão de risco foi inadequada. Tanto na parte preventiva quanto na parte reativa, de mitigação dos impactos.

Todos os gestores de risco devem estudar este caso e daí tirar as lições necessárias para que os desastres não aconteçam com impacto tão violento como este que estamos acompanhando nos últimos dias, com o agravante de que até o momento não temos ainda completa percepção do tamanho real da destruição decorrente. 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Palestra: Segurança da Informação

No dia 29 de outubro, quinta-feira, o professor Fernando Saldanha estará apresentando uma palestra sobre segurança de informação para os alunos da UVA / Marapendi. Inscrições: https://www.eventbrite.com.br/e/introducao-a-seguranca-da-informacao-tickets-19026607094?aff=eac2 .

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Dia Triste em Mecca e em todo o Mundo

Dia triste. 
A morte de quase mil devotos muçulmanos na peregrinação à Meca deve deixar todos tristes, independente de religião. Como especialista em Crowd Management fico indignado com as falhas que levaram a esta tragédia.
Depois de 1990, quando morreram quase 1.500 pessoas, este é o pior desastre neste local religioso. 
Mortes em números elevados são frequentemente verificadas durante o Hajj, que é a peregrinação sagrada que todo muçulmano deve fazer pelo menos uma vez. Este ano, ainda em setembro a queda de um guindaste matou quase cem pessoas na Mesquita Sagrada (http://gerisco.blogspot.com.br/2015/09/acidente-em-mecca-mata-62-pessoas.html)
Embora as causas não estejam identificadas, por certo é uma falha dos gestores e organizadores. A multidão tem que ser gerenciada!!! O preço de quase mil mortes é inaceitável.

 http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/tragedia-durante-peregrinacao-na-arabia-saudita-mata-centenas.html
http://www.theguardian.com/world/2015/sep/24/mecca-crush-during-hajj-kills-at-least-100-saudi-state-tv
http://www.nytimes.com/2015/09/25/world/middleeast/mecca-stampede.html

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Acidente em Mecca mata 62 pessoas

Um guindaste, dentre vários utilizados na reforma de ampliação da Grande Mesquita de Mecca despencou matando pelo menos 62 pessoas e ferindo mais de 200 no dia de hoje, 11 de setembro de 2015.
O Hajj, que é peregrinação anual dos muçulmanos à Mecca acontece no final deste mês de setembro. Essa peregrinação envolve milhões de religiosos e é o motivo da ampliação da Grande Mesquita. A gestão de multidão é objeto de forte investimento por parte das autoridades da Arábia Saudita.
A causa da queda não está confirmada, mas pode ser devido a fortes ventos. Equipes de resgate ainda se encontram no local.
Fotos: EPA e Reuters

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Miopia na Segurança Empresarial

Theodore Levitt em seu conhecido texto de 1960, publicado na Harvard Business Review, denominado "Miopia em Marketing" pergunta: qual é o seu negócio? 
Essa pergunta simples deve ser todo dia feita pelos gestores perante um espelho.
Os gestores de segurança estão entre os profissionais que devem fazer essa pergunta. Tenho visto e lido muitas queixas de gestores da área de segurança sobre a pouca importância que a alta administração lhes confere.
Mas se os clientes não lhe dão atenção, o erro será dos clientes ou do seu marketing? Culpar os clientes pode ser mais fácil, mas isto não irá trazê-los de volta.
Segundo Domenico De Masi, na sociedade pós-industrial os principais recursos organizacionais são "inteligência, conhecimento, criatividade, informações, laboratórios científicos e culturais".  De Masi ainda observa que dentre os principais desafios que passamos a ter destacam-se a qualidade de vida, saúde psíquica e preocupações com o meio ambiente.
Cabe às áreas de segurança ajustar o foco de seus serviços no admirável novo mundo da sociedade pós-industrial. Garantir a segurança neste ambiente onde a informação é um dos principais ativos de empresa exige uma abordagem diferente da abordagem de garantia de ativos tangíveis. A segurança física e patrimonial continua sendo necessária, mas ela não é suficiente para garantir o objetivo da segurança empresarial.
Novos saberes são necessários e os profissionais da segurança passam a ter que dominar novas áreas. A segurança depende de uma estrutura confiável e de procedimentos eficientes acrescidos de mecanismos de prevenção e reação (vide A Continuidade de Cada Dia, Fernando Saldanha). As estruturas e funções organizacionais da era industrial que atendiam plenamente suas demandas não são adequadas neste novo ambiente passando a ser obsoletas.
A segurança da informação é uma das funções que as áreas de tecnologia tem incorporado. Mas este assunto extrapola a competência da área de TI e cada vez mais é entendida como sendo uma demanda estratégica (Allen, Julia. Security is Not Just a Technical Issue). A área de tecnologia da informação deve oferecer uma infraestrutura robusta e segura. Mas as informações e saberes de uma corporação não transitam exclusivamente pelo ambiente de TI e seus proprietários são de outras áreas da organização.
E, em qualquer caso ou situação, a informação e sua segurança dependem do indivíduo que tem acesso a ela. E neste caso a segurança passa pela segurança do funcionário, ou usuário, da informação. Como vimos a qualidade de vida é um dos desafios da nossa sociedade e esta preocupação deve estar inserida no ambiente empresarial. O bem estar e a qualidade de vida, incluindo a qualidade do meio ambiente, também devem ser garantidos, e esta também deve ser em parte responsabilidade da segurança empresarial.
Cabe questionar se o melhor modelo é a segregação em diferentes segmentos, tais como a tradicional área de segurança física, a área responsável pela segurançada informação, a área pela preservação integridade física e do ambiente de trabalho (segurança do trabalho). Integrar estas áreas, seja pela estrutura de processos ou pela organizacional,  é um desafio que deve ser enfrentado pois a efetiva continuidade de um negócio depende do sucesso desta combinação.
A segurança pós-industrial é uma necessidade das empresas do século XXI.
Estruturas e organizações do século passado são ultrapassadas e ficaram obsoletas. Insistir nestes modelos evidencia que o gerente tem vista curta e o diagnóstico é miopia.

Referência Bibliográfias:
Allen, Julia. Security is Not Just a Technical Issue, 2013, Carnegie Mellon University em https://buildsecurityin.us-cert.gov/articles/best-practices/governance-and-management/security-is-not-just-a-technical-issue, acessado em 16 de julho de 2015.
De Masi, Domenico, A Sociedade Pós-Industrial. São Paulo : Ed Senac, 1999.
Levitt, Theodore. Miopia in Marketing. Havard Business Review, July - August 2004. https://hbr.org/2004/07/marketing-myopia, consultodo em 20 de julho de 2015.
Saldanha, Fernando. A Continuidade de Cada Dia. Rio de Janeiro: Ed. Select,  2007.

Os incomodados que se retirem

Domingo de sol no Rio de Janeiro é sinônimo de festa. Mas é sinônimo de folga ou férias cívicas. Pelo menos para alguns, numerosos, cidadãos.
Nas ciclovias da cidade várias tribos se encontram. Desde a tribo dos que estão dando uma caminhada até a tribo dos que estão pedalando numa competição radical onde a todo o momento ou o ciclista ou o pedestre é colocado em risco pela velocidade e ferocidade do atleta montado em sua "byke".
Mas o pedestre não faz por menos, encontra um ou vários amigos e todos confraternizam em plena pista. Não importa que haja um grande espaço lateral ou que a pista venha a ser bloqueada. É dia de festa e comemorar com os amigos é o que importa. Os demais são meros incomodados e os incomodados que se retirem.
Me retirei e fui para o Parque Laje. E encontro um grande engarrafamento na Rua Jardim Botânico pois inúmeros cidadãos querem ir ao parque, em seus veículos e acham razoável ficar parado em plena rua Jardim Botânico, bloqueando uma pista para esperar que um estacionamento, que não é de alta rotatividade, tenha uma vaga para seu possante. Ir ao parque de transporte público não parece ser uma alternativa. Estacionar o carro um pouco mais distantes também não parece ser interessante. Mas bloquear uma pista e esperar vários minutos é interessante. Gosto não se discute, mas civilidade sim. 
O uso de bicicleta pode ser uma boa alternativa de transporte e laser e uma boa forma de espantar o mau humor. Mas o feliz proprietário de um pequeno carro branco parece não querer contribuir. Ele achou uma vaga para ser belo carro junto ao bicicletário, exatamente no espaço destinado às bicicletas cor de abobora que tanto enfeitam a cidade. Tinha espaço para várias bicicletas, mas também dava para um carro pequeno e ele se considerou um felizardo. Os incomodados que se retirem...
Pensativo decido retornar ao meu lar doce lar. Ao chegar reparo que um morador, que tem direito a estacionar apenas um carro na garagem, está estacionando um segundo carro. Ao me ver ele (sou o síndico, pois há vários anos ninguém mais se prontificou a fazer este trabalho comunitário) me diz que a vida está difícil, que está com muito trabalho e que por isto parou dois carros onde ele tem direito a parar apenas um. Imagine se a vida estivesse fácil !
Acho que querem que eu me retire. Tchau !!!!

Ofereça conforto e segurança para seu público

Na coluna "Programa Furado" da revista Rio show de hoje, dia 04/09/2015, a assessoria de imprensa do Shopping Metropolitano, em resposta a uma  queixa de um usuário, informa "...que, a partir das 22h30m, apenas as portas, escadas rolantes, elevadores e banheiros que dão acesso à parte do cinema ficam abertos. As demais áreas são isoladas. O shopping vai reforçar a sinalização e a segurança da área".
Este matéria é interessante e importante para ser utilizada como exemplo de caso a ser tratado  no âmbito da gestão de multidão.
Desde de já é importante salientar que apesar do termo "multidão" o real objetivo desta disciplina é a garantia do conforto, segurança e bem estar do público. Ou seja, não é necessário que haja uma turba, bastando haver um público que numa excepcionalidade pode ser numeroso. No caso em questão, o fim de uma seção de cinema pode dizer respeito a dez pessoas ou a duzentas pessoas, mas independente desta contagem é assunto da gestão de multidão.
O relato do usuário junto com a resposta dos gestores revelam que melhorias podem ser feitas em pontos onde não deveriam haver falhas. Mas o que nos chama a atenção é a atuação pontual, em resposta a problemas ocorridos. Sem um bom conhecimento de gestão de público, o erros e acertos são obras do acaso, pois não se saberá porque há acertos e não se saberá porque está havendo erros.
Gestão de multidão deve ser feita com um método que contemple gestão, informação e design. As alternativas são o improviso ou o método da tentativa e erro e isto pode sair caro.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Série de Cursos - Eventos com Grande Público

Objetivo Geral: O objetivo desta série é oferecer capacitação técnica na área de conforto, segurança e bem estar do público de eventos.
Público Alvo: Esta série é direcionada para promotores de eventos e festas, gestores de segurança privada, profissionais de segurança pública.

Cursos:
1. GESTÃO DE SEGURANÇA E BEM ESTAR DO PÚBLICO (11 de setembro de 2015, das 09:00h às 13:00h)
·         Objetivo: Apresentar uma estrutura de gestão da segurança e bem estar do público que possa ser utilizada como referência para o planejamento e realização de eventos.
·         Conteúdo:
o    Análise de Risco.
o    Aspectos relacionados com a infraestrutura física segura.
o    Aspectos relacionados com medidas de prevenção de riscos para o público.
o    Aspectos relacionados com medidas reativas para a mitigação das consequências de incidentes.

2. DINÂMICA DA MULTIDÃO (18 de setembro de 2015, das 09:00h às 13:00h)
·         Objetivo: Oferecer conhecimento técnico sobre requisitos de espaço e segurança do público de um evento.
·         Conteúdo:
o    Apresentar os principais padrões internacionais.
o    Apresentar métodos de determinação de capacidade de público.
o    Cálculo do tempo de acesso e evasão.

3. ESTRUTURA DE GESTÃO DE MULTIDÃO (25 de setembro de 2015, das 09:00h às 13:00h)
·         Objetivo: Apresentar um modelo de estruturação da gestão de multidão abrangendo desde do início do acesso a um evento até o final da sua evasão.
·         Conteúdo:
·         Apresentar o método DIM - ICE, abordando a:
o    Adequação física do local do evento,
o    As informações disponibilizadas para o público
o    A monitoração e acompanhamento do público
o    A fase de entrada
o    A fase de circulação
o    A fase de saída do evento.

Coordenador / Professor: Fernando Saldanha, Eng. de Produção especialista em Gestão de Riscos, Gestão de Multidão e Gestão de Continuidade de Negócios. Professor da Univ. Veiga de Almeida, tendo ministrado cursos sobre gestão de grande público e gestão de risco em grandes eventos na ABIN - Agência Brasileira de Inteligência e na Acadepol - RJ. Consultor de empresas tais como ONS,  TV Globo, Ponto Frio, Eletronuclear, SUSEP, CVM, Petros, Azul Seguros, SESC - RJ, dentre outras.
Onde: Campus Shopping Downtown - Barra da Tijuca da Universidade Veiga de Almeida, RJ.
Duração: Todos os cursos tem duração de 4 horas.
Característica: Os cursos são objetivos e práticos.
Pré-requisitos: Os alunos devem possuir graduação em curso de nível superior. Experiência prática é desejável. Os alunos são convidados a trazerem casos reais para discussão em classe.
Certificado: Emitido pelo CERNE - Centro de Estudos de Risco e Segurança de Negócios (Reconhecido pelo CNPq como Grupo de Pesquisa).
Preço: R$ 250,00 por cada curso.
Informações e inscrições: cerne@cernebr.com.br

terça-feira, 21 de julho de 2015

Miopia na Segurança Empresarial

Theodore Levitt em seu conhecido texto de 1960, publicado na Harvard Business Review, denominado "Miopia em Marketing" pergunta: qual é o seu negócio?
Essa pergunta simples deve ser todo dia feita pelos gestores perante um espelho.
Os gestores de segurança estão entre os profissionais que devem fazer essa pergunta. Tenho visto e lido muitas queixas de gestores da área de segurança sobre a pouca importância que a alta administração lhes confere.
 Mas se os clientes não lhe dão atenção, o erro será dos clientes ou do seu marketing? Culpar os clientes pode ser mais fácil, mas isto não irá trazê-los de volta.
Segundo Domenico De Masi, na sociedade pós-industrial os principais recursos organizacionais são "inteligência, conhecimento, criatividade, informações, laboratórios científicos e culturais".  De Masi ainda observa que dentre os principais desafios que passamos a ter destacam-se a qualidade de vida, saúde psíquica e preocupações com o meio ambiente.
Cabe às áreas de segurança ajustar o foco de seus serviços no admirável novo mundo da sociedade pós-industrial. Garantir a segurança neste ambiente onde a informação é um dos principais ativos de empresa exige uma abordagem diferente da abordagem de garantia de ativos tangíveis. A segurança física e patrimonial continua sendo necessária, mas ela não é suficiente para garantir o objetivo da segurança empresarial.
Novos saberes são necessários e os profissionais da segurança passam a ter que dominar novas áreas. A segurança depende de uma estrutura confiável e de procedimentos eficientes acrescidos de mecanismos de prevenção e reação (vide A Continuidade de Cada Dia, Fernando Saldanha). As estruturas e funções organizacionais da era industrial que atendiam plenamente suas demandas não são adequadas neste novo ambiente passando a ser obsoletas.
A segurança da informação é uma das funções que as áreas de tecnologia tem incorporado. Mas este assunto extrapola a competência da área de TI e cada vez mais é entendida como sendo uma demanda estratégica (Allen, Julia. Security is Not Just a Technical Issue). A área de tecnologia da informação deve oferecer uma infraestrutura robusta e segura. Mas as informações e saberes de uma corporação não transitam exclusivamente pelo ambiente de TI e seus proprietários são de outras áreas da organização.
E, em qualquer caso ou situação, a informação e sua segurança dependem do indivíduo que tem acesso a ela. E neste caso a segurança passa pela segurança do funcionário, ou usuário, da informação. Como vimos a qualidade de vida é um dos desafios da nossa sociedade e esta preocupação deve estar inserida no ambiente empresarial. O bem estar e a qualidade de vida, incluindo a qualidade do meio ambiente, também devem ser garantidos, e esta também deve ser em parte responsabilidade da segurança empresarial.
Cabe questionar se o melhor modelo é a segregação em diferentes segmentos, tais como a tradicional área de segurança física, a área responsável pela segurança da informação, a área pela preservação integridade física e do ambiente de trabalho (segurança do trabalho). Integrar estas áreas, seja pela estrutura de processos ou pela organizacional,  é um desafio que deve ser enfrentado pois a efetiva continuidade de um negócio depende do sucesso desta combinação.
A segurança pós-industrial é uma necessidade das empresas do século XXI.
Estruturas e organizações do século passado são ultrapassadas e ficaram obsoletas. Insistir nestes modelos evidencia que o gerente tem vista curta e o diagnóstico é miopia.

Referência Bibliográfias:
Allen, Julia. Security is Not Just a Technical Issue, 2013, Carnegie Mellon University em https://buildsecurityin.us-cert.gov/articles/best-practices/governance-and-management/security-is-not-just-a-technical-issue, acessado em 16 de julho de 2015.
De Masi, Domenico, A Sociedade Pós-Industrial. São Paulo : Ed Senac, 1999.
Levitt, Theodore. Miopia in Marketing. Havard Business Review, July - August 2004. https://hbr.org/2004/07/marketing-myopia, consultodo em 20 de julho de 2015.

Saldanha, Fernando. A Continuidade de Cada Dia. Rio de Janeiro: Ed. Select,  2007.

Os Incomodados que se Retirem

Domingo de sol no Rio de Janeiro é sinônimo de festa. Mas também é sinônimo de folga ou férias cívicas. Pelo menos para alguns, numerosos, cidadãos.
Nas ciclovias da cidade várias tribos se encontram. Desde a tribo dos que estão dando uma caminhada até a tribo dos que estão pedalando numa competição radical onde a todo o momento ou o ciclista ou o pedestre é colocado em risco pela velocidade e ferocidade do atleta montado em sua "bike".
Mas o pedestre não faz por menos, encontra um ou vários amigos e todos confraternizam em plena pista. Não importa que haja um grande espaço lateral ou que a pista venha a ser bloqueada. É dia de festa e comemorar com os amigos é o que importa. Os demais são meros incomodados e os incomodados que se retirem.
Me retirei e fui para o Parque Laje. Antes de chegar ao meu destino encontro um grande engarrafamento na Rua Jardim Botânico pois inúmeros cidadãos querem ir ao parque em seus veículos e acham razoável ficar parado em plena rua Jardim Botânico, bloqueando uma pista para esperar que um estacionamento, que não é de alta rotatividade, tenha uma vaga para seu possante. Ir ao parque de transporte público não parece ser uma alternativa para estes motoristas. Estacionar o carro um pouco mais distantes também não parece ser interessante. Mas bloquear uma pista e esperar vários minutos é interessante. Gosto não se discute, mas civilidade sim.
O uso de bicicleta pode ser uma boa alternativa de transporte e laser e uma boa forma de espantar o mau humor. Mas o feliz proprietário de um pequeno carro branco parece não querer contribuir. Ele achou uma vaga para ser belo carro junto ao bicicletário, exatamente no espaço destinado às bicicletas cor de abobora que tanto enfeitam a cidade. Tinha espaço para várias bicicletas, mas também dava para um carro pequeno e ele se considerou um felizardo. Os incomodados que se retirem...
Pensativo volto para casa usando o metrô. Na escada rolante de acesso à plataforma de embarque da estação um casal se abraça e bloqueia totalmente a passagem. Eles não tem pressa e estão apaixonados. Se outra pessoa tem outro ritmo, que se retire... Manter a direita e liberar a passagem pela esquerda é uma prática desconhecida no Rio de Janeiro. Esta prática deveria ser uma regra observada em locais com grande fluxo de pessoas, mas por aqui este hábito não chegou.

Temos muito que aprender e evoluir no uso do espaço público. Quanto mais pessoas no mesmo espaço mais importante é a educação dos usuários. A gestão de multidão, processo pouco adotado por aqui, pressupõe que os gestores e usuários tenham interesse na preservação do conforto e segurança de todos, mas por enquanto poucos perceberam que isto depende da atitude de cada um. Precisamos dar um passo a frente na nossa educação cívica e boas práticas no uso do espaço público e procurar cada um garantir o seu conforto e segurança de todos. 

terça-feira, 7 de julho de 2015

Fogo e explosão em parque aquático em Taiwan

Mais um caso de descuido para com o público de um grande evento.
Explosão seguida de incêndio deixa mais de 500 feridos em uma festa num parque aquático de Taiwan.
A suspeita é que um pó colorido lançado na multidão tenha causado o acidente.
Segundo autoridades, 188 pessoas estão internadas em estado grave.

Detalhes em => http://newsok.com/nearly-500-injured-as-fire-hits-taiwan-water-park-party/article/feed/857031

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Casa das Bruxas

Diário de bordo: Dia 06/06/2015
Neste dia fui a mesma festa de aniversário de uma criança de um ano de idade.
Família e amigos reunidos numa casa de festas, na Barra da Tijuca, lugar nobre do Rio de Janeiro. Esta casa de festas deve estar cotada entre as mais caras e possui uma bela decoração. Nas paredes temos várias portas pintadas imitando portas de história de contos de fadas. Mas elas não são portas...parecem portas. As portas verdadeiras estão disfarçadas. Olho envolta e não veja qual o escape possível caso seja necessário uma evacuação. Procuro e olho bem. Continuo sem achar. Vejo uma única sinalização apontando para um local onde não há uma porta real, apenas as portas de brincadeira. Circulo pelo ambiente e acho uma porta, ampla, com barra antipânico, mas visível apenas de alguns pontos do salão. E não estou me referindo a nichos do salão. Onde eu estava inicialmente era um local central, de um dos ambientes, e deste ponto nada era visível. A porta de escape também não era visível de outros pontos. Não me senti confortável e seguro e temo por outros que venham frequentar este local.
Um dado a mais para se preocupar, o local foi feito para que as crianças brincassem em túneis e passagens fechadas, pouco visíveis.  A possibilidade de uma criança, numa emergência, ficar perdida, esquecida, encurralada, ou coisa parecida, é grande.

Não basta ter alvará, é preciso ser previdente.

segunda-feira, 23 de março de 2015

A segurança pode ser fashion !

A comunicação de procedimentos de segurança podem ser bonitas e agradáveis. Captar a atenção do público alvo é a meta. A Air France nos dá uma boa ideia de como isto pode ser feito no seu video de instruções de segurança que pode ser visto no link abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=0N3J6fE-0JI&t=51

Parabéns para a equipe de segurança da Air France !!!!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Vai dar praia !

Nasci e cresci em Copacabana no século passado, e para toda a minha galera sábado, domingo e feriado, com sol ou com mormaço, era dia de praia. Era automático. Acordava tomava um café da manhã reforçado e ia para a praia no meu ponto. Assim era para toda a rapaziada do Leme ao Pontal. Não precisava de Facebook, Twitter, ou e-mail. Não precisava marcar nada, bastava ir para o local de sempre na praia, em frente a Constante,  Montenegro (já faz tempo!) ou  Garcia. Cada um tinha a sua praia.
Mas já naquela época domingo era um dia diferente. A praia era mais cheia tinha uma cara eclética com rostos estranhos, vindo de locais "pra lá do túnel".
Hoje em dia, especialmente nos domingos, a praia é do povo de Ipanema a Deodoro. Não apenas de quem mora perto dela. A praia nos domingos e feriados fica cheia de gente, muita gente e tem tudo
para ser uma festa. A manutenção de ordem num local público, aberto com uma grande quantidade e densidade de pessoas, somente poderá ser garantida com a contribuição dos usuários. A presença de policiamento ostensivo nas praias tem o caráter inibitório. Mas se esta inibição não acontecer, a presença da polícia não é garantia de que pequenas agressões e assaltos não ocorram.
A ordem em qualquer local onde haja uma grande concentração de pessoas somente será assegurada caso as pessoas presentes queiram manter a ordem. Do contrário, nunca haverá policiais em quantidade suficiente.
Precisamos de polícia para manter a ordem, mas acima de tudo precisamos de educação. No calçadão, na praia, na ciclovia, a segurança e conforto dependem da educação dos usuários. Pequenas ações podem significar atos de generosidade ou atos agressivos. O respeito ao ir e vir, a desobstrução das passagens, o ceder a vez, andar de bicicleta em velocidade compatível com o local, circular mantendo "a direita", são práticas que devem ser incentivadas, divulgadas e enfatizadas.

O grande número de frequentadores nas praias nos domingos de sol e calor é uma das características do Rio de Janeiro. Poucas grandes cidades do mundo têm a praia e o mar junto, bem juntinho, ao centro urbano. Isto faz com que tenhamos esta multidão nas praias, e a multidão é bem vinda e esse é o Rio de Janeiro. Para a festa ficar completa basta aprendermos a usar o espaço com civilização e educação. 

PS: As fotos são para embelezar a página. Eu ainda não ia à praia quando elas foram feitas!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O Carnaval de 2015 vem aí

O Carnaval está chegando. Milhares de pessoas irão se divertir nos blocos, ensaios, e praias. A cada ano cresce o número de pessoas nas ruas do Rio de Janeiro aproveitando essa festa . E a cada ano a multidão se faz sentir cada vez mais multidão. Há sobrecarga nos transportes, banheiros, e espaços públicos. É muita gente para o espaço disponível e para a infraestrutura possível de se dispor.
O desafio da cidade do Rio de Janeiro é conciliar a festa com a segurança. E está cada vez  mais difícil fazer com que a segurança seja compatível com o tamanho do evento.
A gestão de multidão tem como ponto de partida a adequação do espaço do evento com o público esperado. Para o carnaval de 2015 o público esperado é maior do que o de 2014. O Rio de Janeiro tem aparecido positivamente na mídia como sendo uma cidade onde a festa é uma constante. A Jornada Mundial da Juventude, em 2014, foi um sucesso na mídia, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo também foram eventos que deixaram imagens positivas. E o resultado é que no mês de fevereiro o Rio de Janeiro estará com lotação máxima. Ou melhor, com superlotação. Cidades como Búzios e Cabo Frio experimentam esta situação, mas em menor escala. No Rio de Janeiro estaremos recebendo milhões de pessoas.
A operação da cidade e de seus serviços será exigida ao máximo. A segurança é uma responsabilidade do Estado, mas a operação dos serviços nem sempre é. Cabe ao poder público ordenar e cuidar para que os serviços sejam oferecidos com a devida segurança e conforto.
Locais turísticos tem que ter uma operação compatível com a demanda esperada. A estátua do Cristo Redentor é um ex
emplo de uma operação super demandada. Sempre que houver um grande evento na cidade do Rio de Janeiro haverá excesso de demanda no acesso ao Corcovado. Não será possível atender a todos, mas é obrigatório que todos sejam tratados com eficiência, conforto e segurança. Sempre que um destes pontos não for atendido satisfatoriamente haverá uma queixa, podendo até resultar numa questão de segurança pública. Existe uma capacidade de atendimento que é fisicamente impossível de ser ampliada. O espaço do Cristo Redentor tem uma capacidade limitada e esta capacidade é a que determina o número de visitantes máximo que poderá ser recebido.
Espaços com serviços compatíveis ao tamanho do público, informação suficiente e equipe competente são essenciais para o sucesso dos eventos. Só assim, o Rio de Janeiro pode oferecer a todo público uma experiência agradável segura e confortável.

Só nos resta esperar que não tenhamos novamente manchetes e reportagens dizendo que durante o carnaval houve uma grande fila em algum lugar, que a fila era uma bagunça, que não havia informação, que os atendentes eram despreparado, que faltava água, sombra...